ainda consigo sentir-te comigo, como se realmente me estivesses a tocar, tento falar, mas nada me ocorre, nada que eu possa dizer vai mudar o que quer que seja. olho para trás, para todas as recordações que tenho contigo, e é como se estivesses vivo, como se ainda te conseguisse ouvir, cheirar e ver, no entanto sem puder tocar-te, e isso destruía-me. éramos tão bons juntos. a cada hora, a saudade aumenta, e começa a sufocar-me, mas, ainda acordo olhando para o lado da cama onde dormias e imaginava-te lá, durante 5 segundos - a dormir, só depois percebia que quem estava lá não eras tu, somente a tua almofada. sinto muito a tua falta, sinto falta de todos os pequenos momentos, que por muito simples que fossem me enchiam o coração de amor, sinto falta dos teus abraços que me faziam sentir a pessoa mais segura do mundo, sinto falta da maneira como me fazias sentir a mais bela do mundo, sinto falta de acordar a meio de um pesadelo e de te ouvir dizer “foi só um pesadelo, e mesmo que não fosse, eu estou aqui contigo, e não há nada, que, juntos, não ultrapassemos”, tenho saudades da pessoa que eras, da pessoa que eu amava. revivo todos os dias, os dias passados, em que chagava a casa, tomava banho, vestia uma das tuas t-shirts larguíssimas, sentava-me no sofá, abraçava os meus joelhos e esperava que chegasses a casa, quando chegavas, oferecias-me um doce beijo na testa, apertando-me delicadamente as minhas bochechas contra as palmas das tuas mãos, encostando a minha testa aos teus lábios; pousavas a mala no canto do sofá e estendias-te á minha beira, não dizíamos nada, mas sentíamos tudo o que qualquer palavra poderia transmitir, e ficávamos assim, tempo e mais tempo, rodeados do amor que juntos fazíamos irromper do nosso interior para fora, era mágico. agora pedem-me que me livre de todas as tuas coisas, entram em nossa casa, sem me pedir autorização e armazenam em caixas as tuas roupas, os teus livros, os teus sapatos, e eu fico impune, sem conseguir mexer-me e impedi-los, deixando que a dor da tua perda me paralise, sem conseguir proteger-te deles, que a toda a hora me pedem que me esqueça de ti, o que sabem eles? tocam três vezes na campainha em menos de dois segundos eu demoro cerca de dois minutos a percorrer, muito lentamente, o pequeno espaço entre o sofá, que começa a ganhar defeito, devido a ter-me a mim alapada segundo atrás de segundo no sítio onde costumavas estender-te quando chegavas a casa, até ao hall de entrada. abro a porta e vejo vultos coloridos, redondos, segundos depois apercebo-me de que são balões, e duas estranhas, a minha irmã e a minha mãe, seguram-nos, com um sorriso doloroso na cara, tentando fingir que não sabem da tua morte, que não sabem o quão deprimida estou (e pensam elas que eu própria não sei disso). que sabem elas? que sabem elas sobre perder o ar, que sabem elas sobre nunca mais sentir o verdadeiro valor da palavra amo-te? eu não as condeno, não as posso culpar por te ter perdido.
mas mesmo assim não deixa de doer, e ainda te sinto,
ás vezes
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